sábado, 11 de dezembro de 2010

Menina pequena

Você sabe que sou eu, que sempre fui eu e que continuo sendo eu a pessoa a bater na sua porta. Toco a campainha e corro, me iludindo que o dono da casa nunca verá meu vulto dobrando a esquina. Isso porque sou uma criança ingênua que desconhece o fato que tu já sabes que sou eu antes mesmo de que eu pense em chegar na frente da tua casa. Aí quando penso que ganho, na verdade perco. Isso porque você sabe o que eu penso, e isso é muito injusto, porque estou sempre em desvantagem.
Mas muitas coisas injustas acontecem todos os dias. Coisas injustas do tipo da queda que levei ontem e me fez chorar três horas seguidas. E depois de chorar se parar, tentando lavar a alma do monte de areia que acumulei ralando o chão, me deparei com o gosto de sangue na boca, esse gosto acre para ficar me lembrando o tempo todo de quando me distrai e topei na calçada e acabei toda ralada.
Mas porque toco sua campainha?
O que me traz a sua calçada, se fui eu que resolvi me mudar daqui?
Não sei, sinceramente não sei. Mas sei que volto, e devo voltar pelo monte de coisa que vem na minha cabeça agora e que não tenho o direito de falar, não tenho e não vou. Estou aprendendo, afinal. Não tenho direito algum disso ou de coisa alguma. Tenho que ficar bem quetinha, calada. Então escrevo aqui onde sei que você não vai ler. Mas o que digo ainda não passa nem perto do que queria dizer de verdade. O mais triste é que, mesmo que eu diga tudo que tenho a dizer, ainda assim acho que isso não nos traria de volta. Porque não acho que é pra ter volta. Mas que eu queria que pudesse ser, eu queria.
Você foi meu grande amor, afinal. Foi, e continua sendo. Mas não, não pode nem deve ser. E é por isso que não posso falar nada, nem dizer nada. e nem deveria mais tocar sua campainha. Mas toco. Droga, ainda toco sua campainha.

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