sábado, 14 de novembro de 2009

Varal

"Esperança já nem tenho mais. Voou do varal numa noite qualquer. O mesmo varal onde pendurei minha fé. Voou também, eu nem vi. Venta muito por aqui. Nada fica firme por muito tempo. As roupas não secam, somem. Voam sei lá pra onde... Eu já nem sei o que vestir mais quando me convidam. Por isso eu nunca aceito. Mas fico em casa com satisfação. Vou até o quintal, aproveito o tempo pra estender fotos, passados, sonhos. Tudo no mesmo varal. Só pra tirar o mofo, sabe? Tomar um ar... Mas sempre voam. Voam sei lá pra onde. E eu vou perdendo as peças da minha história, uma por uma. O que eu amo desaparece. Do quintal da minha casa nem dá pra ver o seu. Mas imagino que lá no fundo, no cantinho, também tem um varal. O seu varal. Onde não venta. E deve estar pendurado lá o meu sorriso, minhas certezas, minha fé. Quem sabe um dia não bate um vento, e de tão forte, te faça trazer de volta tudo que foi meu? O que falta ao meu quintal. O tempo voa quando espero. Estendo a vida num varal. Esperança já não há. Voou sei lá pra onde. Nada fica firme por muito tempo. Venta muito por aqui."

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